Planejamento financeiro: uma estratégia de vida para os que servem com honra
- Gustavo Henrique
- 28 de jul.
- 4 min de leitura

Pedro Pagano Junqueira Payne¹
Bruno Henrique Vieira Borges²
Organizar a própria vida financeira pode parecer uma tarefa difícil, especialmente para quem está envolvido com muitas responsabilidades — quartel, família, atividades físicas, estudos, formação contínua, projetos de vida. Mas se há uma verdade que os militares conhecem bem, é esta: nenhuma missão importante se cumpre sem planejamento. Da mesma forma, a boa administração dos nossos recursos exige disciplina, visão e constância.
O planejamento financeiro pessoal não é apenas uma técnica: é um hábito que pode transformar a forma como lidamos com o presente e como construímos o nosso futuro. Entre os militares temporários e oficiais da reserva, o tema ganha uma importância especial. Afinal, a transição para a vida civil, as mudanças de renda e os novos desafios exigem preparo não só psicológico e profissional, mas também financeiro.
Infelizmente, a maioria dos brasileiros ainda vive sem qualquer tipo de controle sistemático do próprio orçamento. Segundo dados recentes, cerca de 46% da população não registra seus ganhos e gastos mensais³. Entre os que o fazem, a maioria ainda prefere métodos informais, como o velho caderninho ou planilhas improvisadas. Poucos utilizam aplicativos específicos, apesar da tecnologia facilitar cada vez mais esse processo.
Dicas práticas
A primeira dica prática para quem quer começar é simples: registre tudo. Pode ser em um aplicativo gratuito, como o GuiaBolso ou o Mobills, ou mesmo numa planilha personalizada no Excel. O importante é saber exatamente para onde está indo cada centavo. Só assim será possível tomar decisões conscientes, cortar excessos e identificar oportunidades de economia.
Outro princípio essencial é a chamada regra 50/30/20. Ela sugere que dividamos a renda líquida mensal em três blocos: 50% para necessidades básicas (moradia, alimentação, transporte), 30% para desejos e lazer (viagens, restaurantes, entretenimento), e 20% para poupança, investimentos ou pagamento de dívidas. Adaptar essa regra à realidade de cada um é um ótimo ponto de partida.
Mas o planejamento não serve apenas para equilibrar as contas do presente. Ele também deve olhar para o futuro, com foco em três objetivos principais: criar uma reserva de emergência, garantir proteção para os entes queridos e organizar a sucessão patrimonial. Esses três pilares formam o que poderíamos chamar de “tríplice defesa” de um bom planejamento.
Três pilares
A reserva de emergência é a linha de frente. Deve cobrir, idealmente, de 3 a 6 meses de despesas essenciais. Ela serve para situações imprevistas: problemas de saúde, desemprego, acidentes ou qualquer outro contratempo que exija recursos imediatos. O recomendado é mantê-la em aplicações de alta liquidez e baixo risco, como CDBs com liquidez diária ou contas remuneradas.
A segunda linha de proteção é o seguro de vida. Muitos ainda associam essa ferramenta apenas à morte, mas ela é, na verdade, um dos instrumentos mais eficazes de planejamento financeiro. Além de oferecer segurança aos dependentes em caso de falecimento, um bom seguro pode cobrir invalidez, doenças graves e até gerar liquidez imediata para os herdeiros, fora do inventário.
Esse último ponto é fundamental quando pensamos no terceiro pilar: o planejamento sucessório. Sem uma estratégia bem definida, o processo de inventário pode se arrastar por anos, custar caro e gerar conflitos familiares. Bens ficam bloqueados, taxas como o ITCMD incidem sobre o patrimônio, e a burocracia pode consumir parte significativa do legado construído com tanto esforço.
Entre as soluções mais eficazes para isso estão o testamento, as doações em vida, a constituição de uma holding patrimonial e os produtos securitários como o seguro de vida e a previdência privada (especialmente o VGBL, que geralmente não entra no inventário). Cada caso exige análise, mas o ponto central é o mesmo: planejar em vida é um ato de cuidado e responsabilidade.
Conclusão
Planejar as finanças não significa viver com medo do futuro ou prender-se à rigidez. Ao contrário, trata-se de viver com liberdade e serenidade, sabendo que cada passo está sustentado por escolhas conscientes. Assim como um bom comandante prepara sua tropa para toda situação, o militar responsável prepara sua casa para os dias bons e os dias difíceis (Mt 7, 24-27).
Na AORE, queremos incentivar nossos associados — oficiais da reserva e militares temporários — a assumirem esse protagonismo também na área financeira. Seja na fase de transição para o mercado civil, na administração do lar, ou ainda na transmissão do patrimônio aos filhos, cada um é chamado a combater bem o seu próprio combate.
Organizar as finanças é mais do que uma estratégia — é um estilo de vida. E como todo estilo de vida saudável, começa com pequenos passos, repetidos com constância, iluminados por bons conselhos e sustentados por uma visão maior. Que possamos todos, com humildade e firmeza, planejar o hoje para honrar o amanhã.
¹ Vice-presidente da AORE. Advogado. Mestrando em Direito Civil pela UnB. Pós-graduado em Direito Processual Civil. Oficial R2 do Exército Brasileiro. E-mail: pedropgno@gmail.com
² Diretor Financeiro da AORE. Especialista em Planejamento Financeiro com Foco em Gestão de Riscos e Sucessão Patrimonial. Oficial R2 do Exército Brasileiro. E-mail: brun_ohvb@icloud.com
³ Disponível em: https://www.spcbrasil.org.br/uploads/st_imprensa/release_educacao_financeira_v7.pdf




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